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segunda-feira, 27 de abril de 2009

CESTOS

Quase que podia dizer que os tenho de todas as cores e feitios. Não é bem assim. Mas já são alguns.

No meu primeiro ano em terras africanas, de uma viagem à Gâmbia trouxe este, que é o meu preferido.
Passados poucos meses a Isabel ofereceu-me este, que veio de Cap Skiring, no Senegal, e que tem servido de cesto da roupa. Dá imenso jeito.

Depois comecei a comprá-los a uma menina (que nos últimos tempos não tenho encontrado) que habitualmente vende numa das ruas do centro da cidade. Cada vez que me via dizia: leva cesto.

No princípio nem sabia o que lhes havia de fazer mas fui levando, ela ficava feliz, porque vendia, e os cestos eram tão baratos que eu achava sempre que eram uma boa compra mesmo quando achava que podiam não me servir para nada.

E afinal passaram a servir para tudo.

Este foi pregado na parede da marquise onde é estendida a roupa para secar, e guarda as molas da roupa.

Estes “começaram a saltar” para cima dos candeeiros quando os frágeis (e horrorosos) abat-jours de plástico que lá estavam se iam estragando ou ficando mais feios.

Este começou logo a servir para cesto das batatas e das cebolas. Enche-se destes legumes à segunda-feira e vai esvaziando durante a semana.
Este, tão estreitinho; não havendo ideia inicial para o que pudesse servir, rapidamente se transformou no porta-tampas de tuperwares e outras caixas de plástico.

Do Senegal, vieram ainda estes.

Um que serve para cesto do pão, vai à mesa com um guardanapo de pano africano e pão (kuduro) cortado às fatias.

Este está em cima da bancada da cozinha com as cabeças de alho.
E este tem uma doce função: a de guardar bombons. Hum!

E na última viagem o Osvaldo quis ainda este para ele. Daria um óptimo cesto de papéis debaixo da secretária mas por agora também tem servido para roupa.

Por último, não resisti a um dia comprar este pelo simbolismo. É este tipo de cesto que é usado para separar alguma casca ainda agarrada ao arúz pilado. É espalhado algum arroz no cesto e depois uma mulher faz um movimento específico, que eu sou incapaz de explicar, mas que tem como resultado que o arroz, mais pesado, fique num canto, e a casca, meia solta, mais leve, fique no canto oposto.

Como aqui em casa o arroz já se compra descascado, o cesto ora serve para ter laranjas ou mangas, ora somente para decorar a cozinha.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

ANDRÉ, AS MÃOS DE UM CARREGADOR

Quando aterrei em Bissau a primeira vez, há quase quatro anos e meio, foi como se estivesse à espera que eu chegasse, como passou a estar depois durante muito tempo. O André estava à saída do aeroporto, à espera de apanhar as malas de alguém que depois carregaria até ao táxi ou a uma viatura no estacionamento.
Ele e outros meninos levaram as nossas bagagens até à carrinha e na altura os colegas de projecto que nos receberam trataram das gorjetas. No meio da confusão que era o aeroporto e a saída, na época às sextas-feiras à tarde, acho que não identificaria nenhum dos outros rapazes. Só o André.

Era deste modo, carregando malas de passageiros do então único voo semanal da TAP de Lisboa para Bissau, à frente do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, que o André conseguia alguns trocos para ajudar a família. De todas as vezes que viajei ele me via e perguntava quando voltava, não se esquecia da data e quando eu voltava lá estava ele, e eram as minhas malas que ele levava (bom ou as dos colegas quando estávamos todos juntos e as bagagens à mistura). Foi assim até ao ano passado. Depois o horário do vôo mudou.

Hoje a TAP opera três vôos por semana de Lisboa para Bissau, mas isso não fez com que o “negócio” do André se tornasse mais lucrativo. Todos os vôos são agora de noite, aterram em Bissau cerca das 2 horas da madrugada, e tal como o André a maior parte dos carregadores desapareceu, receosos da noite escura de Bissau. Não é só a questão da segurança, mas sobretudo a falta de luz e de transportes toca-toca para regressarem às suas casas de forma económica.


Agora é costume encontrá-lo à frente de um dos Supermercados Bonjour ou Bodem, numa das mais movimentadas ruas do centro da cidade.
Cada vez que apareço disputa com o Amadu, quem carrega os meus sacos das compras. Caminha o mais próximo de mim que é possível e assim que compro alguma coisa e a vendedora me estica o saco, o André apanha-o primeiro. Quando tem várias coisas pede-me a chave do jipe, dou-lha e vai todo contente meter os sacos no jipe, volta. Não me entrega a chave até eu fazer todas as compras e ele ter levado todos os sacos.

Em Novembro o André foi operado às mãos por uma equipa de médicos holandeses que estiveram no Hospital Simão Mendes. Desde que o conheci, as mãos que estende com entusiasmo para nos cumprimentar estão deformadas. Inicialmente pensei que tivesse nascido com uma malformação mas aqui há uns tempos perguntei-lhe como tinha sido. Com cerca de 5 anos, numa apanha de caju, colocou as mãos numa bacia para retirar umas chaves que lhe tinham caído, e queimou-se num qualquer liquido ácido ou corrosivo. O que sempre me impressionou foi a facilidade com que carrega tudo, malas, caixas, sacos, quando alguns dos seus dedos nem estão completos.

Não tem a mesma facilidade na escola, diz que devido à sua dificuldade para escrever. Tem 20 anos e frequenta a 6ª classe mas é evidentemente inteligente. Para ele o mais importante é pagar a escola e ajudar a família, o pai já faleceu, e além dele e da mãe existem mais 6 irmãos.

Quando lhe tirei a foto ainda andava com ligaduras. Disse-lhe que ia escrever sobre ele e que ia colocar na internet. Disse que me queria oferecer coconetes. E no sábado seguinte veio ao Bairro trazer estes 4 côcos. Disse que era um para mim, e um para cada um dos meus colegas (a quem ele também faz questão de levar as compras).
Tem no seu quintal côcos e mandiocas e oferece-os aos amigos. Diz que não vende porque aos amigos as coisas não se vendem, oferecem-se. Muito raramente também pede que lhe ofereçamos algo que o ajude, por exemplo a pagar as propinas da escola (3€/mês). Mas a sua generosidade é largamente mais vasta do que a dos amigos e por isso é impossível recusar-lhe algum pedido que é feito de muito tempo a tempo.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

QUADROS

Um dia será dia de partir. E em Junho do ano passado quando repentinamente fui confrontada que isso pudesse ser dali a 3 meses, e que só me restava mais uma viagem a Portugal para além da última, tomei consciência do que tinha acumulado em 4 anos e de que muita coisa não queria deixar para trás.

Não levarei a não ser no coração o que a esta terra pertence. Mas muitos objectos que me fizeram sentir em casa partirão, aos pouco, comigo.

Em Dezembro levei estes 2 quadros para casa. Representam tabancas da Guiné com motivos do dia-a-dia, pekaduris nas suas tarefas, mininu que brinca, omi que pesca, mindjer que acarta lenha ou pila o arúz.
Regressada do Natal achei que as paredes nuas me faziam sentir menos em casa, e agora pergunto-me se levo já estes 3 ou se é melhor esperar mais algum tempo, não vá, depois de regressar da Páscoa, comprar mais 4.

tabanca - aldeia
pekaduris - pessoas
mininu - menino
omi - homem
mindjer - mulher
arúz- arroz