Desde o primeiro ano em Bissau que vou ao Orfanato Casa Emanuel. A primeira vez as minhas colegas que estavam em Bissau há mais tempo levaram-me, a Mónica, a Cláudia e não me recordo se mais alguém nesse dia. Voltei lá muitas vezes sozinha. Voltei lá várias vezes com visitas para que conhecessem. Mas é sobretudo quando vou sozinha que me sinto invadida por um turbilhão de sentimentos, de tal forma que às vezes ando dias e semanas a adiar uma visita. Fico dividida entre o “coitadinhas daquelas crianças”, expressão que mais oiço quando falo no Orfanato pela primeira vez a alguém, ou que sorte ou alegria daquelas crianças por poderem estar onde estão. Não há maneira de algum dia concluir qual o lado que tem razão.
Algumas das crianças são verdadeiramente órfãs, outras a mãe morreu no parto ou após e os pais ou família vão ali entregá-las, outras até podem ter pai ou mãe vivos mas são abandonados por diversas razões que não cabe a ninguém julgar, alguns são deficientes, muitos ou todos, terão melhor vida ali, mais cuidados, mais amor.
Acima de tudo, como o Joel e a Joana dizem, a Casa Emanuel é um pequeno oásis em Bissau.
Tem uma escola com as melhores salas de aula que existem no país, desde a 1ª à 6ª classe.


Mas mais do que os apoios externos, as imensas possibilidades de uma vida com mais qualidade e carinho só são possíveis graças à irmã Isabel e à irmã Eugénia. São fantásticas. Assim como todos os voluntários que por lá passam. A ajuda deles é preciosa. Cuidar de mais de 140 crianças (em 2005 eram quase 100, o número aumenta consideravelmente todos os anos) não é tarefa fácil e a ajuda de todos os braços disponíveis é bem vinda.


A duas semanas do Natal, mesmo que em Bissau não o parecesse, escrevi às minhas gajas. Cada uma destas minhas amigas, uma amizade nascida na universidade, é especial e diferente. Ao fim de doze anos, e depois de há cerca de sete cada uma ter seguido o seu caminho, continuamos a manter uma relação de amizade que não procuramos explicar mas que nos une, que nos faz querer não perder pitada da vida de cada uma. Mesmo quando faltámos o casamento de uma ou os primeiros dias do primeiro filho de outra é como se estivéssemos estado sempre lá e recuperamos cada momento afastadas num encontro em que todas falamos ao mesmo tempo e parece que nunca estivemos três meses sem nos vermos.
Cada vez que regresso a Portugal, ainda que por um curto período de tempo, um encontro com vocês é obrigatório, é quase sempre a primeira coisa a marcar na agenda para aqueles curtos dias.
Não foi surpresa mas foi com grande alegria que recebi as respostas de cada uma à minha ideia. Juntas, íamos tornar mais doce o lanche de Natal das crianças da Casa Emanuel em Bissau.
Assim, depois de um orçamento indicativo que previa latas de leite em pó para os mais pequenos e sumos Compal, bolachas e bolos diversos para os mais crescidos, fui às compras e, em seguida, com a mala do carro cheia de coisas boas, em direcção ao Orfanato.



Para todos continuação de Boas Festas e em especial estes votos com uma imensa expressão de agradecimento à Elsa, à Guida, à Inês, à Rita e à Filipa.


No último ano foi construído um pequeno hospital na Casa Emanuel, a pensar não só nas crianças mas também nos seus nascimentos e nas suas mães, por isso grande parte é uma maternidade. A próxima campanha Coração na Guiné pretende recolher materiais para o seu funcionamento. Visite o site e apoie.