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domingo, 23 de maio de 2010

GABU

Não é bloqueio de escritor. Antes fosse (bloqueio) e o pudesse ser (escritora). Tem sido mais algo do género: se não tens nada de bom para dizer fica calada.

Nos últimos meses, semanas, dias, sentimentos contraditórios, de querer ir, de querer ficar, uma nostalgia antecipada e a perda do último resto de inocência sobre um país de futuro demasiado incerto, bem menos promissor do que sempre se desejou.
Muitas horas, algumas noctívagas, a pensar no que escrever sem que fosse o reflexo deste estado de inquietude, e a certeza de que falar desta cidade nunca o seria de forma diferente. Contente ou descontente, iludida ou desiludida, nunca teria melhor para dizer de Gabu do que o pouco que se segue.

Há cinco anos atrás a experiência de ir a Gabu tinha-se revelado bastante decepcionante. Correndo o risco de ter deixado os problemas pessoais imiscuírem-se numa melhor apreciação de um lugar que afinal poderia ser diferente, 2010 foi o ano de dar uma segunda oportunidade à cidade e de trazer para recordação algumas fotos da mesma.

De espírito livre e em boa companhia as quase três horas de distância de Bissau a Gabu passaram num instante. A expectativa era alguma para quem pretendia redescobrir a cidade e maior para quem a ia descobrir pela primeira vez.

Chegámos à segunda maior cidade da Guiné-Bissau. Algum movimento, algum comércio mas bem menos do que aquilo que sempre se ouvia contar sobre Gabu. Talvez haja algo de pitoresco no mercado embora nada comparável ao de Bissau. Nas fotos vários tipos de arroz e vários tipos de sabão chamam a atenção. Mais adiante uns colchões caricatos: palha forrada com grandes sacas que antes foram de arroz ou farinha.Desde a última vez alguma coisa mudou. O antigo Palácio do Governador, que me impressionou na primeira visita pelo total abandono, está agora em obras. Aparenta ter sido uma boa residência em tempos, convidativa, talvez o volte a ser no final das obras.
Resquícios da Nova Lamego, inscrita ainda na parede de uma loja que dá por esse nome, nas casa de dois andares, uma delas de varanda em toda à volta do 1º andar, que albergam a Farmácia Central e o BAO (Banco), na igreja e na antiga estação C.T.T.
Em menos de uma hora nada mais há para ver nesta pequena cidade de ruas de terra vermelha. Almoçamos galinha à cafreal (dizemos cafriela) no “Pó di Terra”.
A caminho da saída passamos em frente daquela que em 2005 era a discoteca Baga-Baga, “a não perder” – disseram-me quando lá fui a primeira vez.
Saímos com uma sensação de “ficou visto”, de quem gostaria que fosse mais mas não é, esta cidade que ouvimos os guineenses dizer em Bissau que é a cidade dos burros, a cidade das bicicletas ou a cidade das motas. De tudo isto se vê um pouco nas ruas. Mas só um pouco.
É apenas uma pequena cidade no leste, mais seca, quente e abafada que Bissau.

Poucos minutos adiante, na estrada que liga Gabu a Bafatá, um novo hotel. Por curiosidade vamos conhecer, quase certas que não voltaremos ali, mas nunca se sabe. Parece que ainda nem está totalmente pronto mas, apesar de não haver nenhum cliente este fim-de-semana, garantem-nos que já está a funcionar e que tem vindo gente de Bissau só para passar o fim-de-semana, descansar, tomar um banho de piscina.
Para quem há cinco anos dormiu no Vision, então único hotel de Gabu, este Hotel HBC parece ter dez estrelas mais. Não fico com ideia de voltar nos próximos tempos mas merece ser divulgado.

sábado, 5 de abril de 2008

A D. BERTA

Agora na casa da avó, num local onde se acorda com o crepitar do lume e o cheiro a café de cevada, e quando se olha pela janela de manhã o manto verde está coberto de branco, longe da Guiné por estes dias, lembro aquela avó que muitos adoptam em Bissau.
É um desafio falar numa mulher tão querida, tão admirada. Há muito que vos queria falar da D. Berta e tenho adiado à espera das palavras que consigam descrever o que se sente naquele lugar especial. À espera disso temo que as palavras nunca cheguem.
A D. Berta é uma mulher especial com um lugar único em Bissau, com um toque de encantado. O Cantinho da Avó Berta é também chamado de Pensão Central. Neste edifício, na Av. Amílcar Cabral, com uma grande varanda que rodeia todo o 1º andar, há um alojamento modesto e um restaurante com a estranha capacidade de nos transportar no tempo. Sabe quem já lá esteve do que estou a falar. Da calmaria após o almoço, a brisa a levantar um pouco todos os tecidos coloridos, panos de parede e toalhas, e se num desses momentos se tiver a sorte de ouvir uma “morna”, passar os olhos por cada um daqueles quadros, retratos, fotos, dedicatórias, paredes inundadas de recordações de décadas e décadas passadas.
A D. Berta nasceu em Cabo-Verde mas é Bissau que mais espaço ocupa no seu coração, na cidade que escolheu para viver há mais de 60 anos; foi nesta cidade que, durante o último conflito militar (1998) demonstrou as suas extraordinárias capacidades humanitárias, a sua solidariedade imensa. Pelas suas qualidades excepcionais foi já condecorada pelos 3 países a que mais está ligada: a própria Guiné (pelo Ministério do Turismo), Portugal, e há alguns dias por Cabo Verde.
Para além do quanto é boa, carinhosa, do quanto sabe ajudar, serve ainda alguns dos melhores pratos em Bissau. É ali que se come o melhor “Pitch Patch” - canja de ostras - e a melhor salada de camarão.
É um lugar familiar, e muitas das pessoas que por ali passaram adoptaram esta carinhosa avó, que por sua vez continua a ver crescer o seu rol de netos.
Hoje é daqueles dias que mais sinto o quanto é bom ter uma avó, aquela casa que não sendo “a nossa”, é aquela onde ainda sentimos que pertence uma grande parte de nós.
É por isso que compreendo este sentimento que liga muitos dos que aqui passam a avó Berta. É bom poder haver um lugar assim aqui tão perto, onde estamos tão longe.
(O texto foi escrito há alguns dias, quando estava efectivamente na casa da minha avó, infelizmente o tempo e a net só agora permitiram que o divulgasse aqui, agora novamente em Bissau.)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

UAQUE

Já não parece estranho ao fim deste tempo todo. Já me parece normal estar na piscina e a apanhar sol num fim-de-semana em Dezembro. Infelizmente não é possível fazê-lo mais vezes. Bom seria que todos os fins-de-semana fossem isso mesmo, mas nem sempre é possível deixar tudo e só descansar, não pensar no trabalho, em tudo o que há para fazer, tratar, organizar. Mas quando é …
Este domingo ir a Uaque teve uma motivação diferente, o aniversário de um amigo. Mas às vezes não precisa de mais motivação do que o querer. Uaque é um hotel rural a cerca de 40 Km de Bissau, onde se come muito bem, e onde em época de caça tem mesmo das melhores delícias. Para as visitas é um ponto de passagem obrigatório. Para quem cá está, Uaque é às vezes também um refúgio. Lá esquecemos um pouco a cidade de Bissau, no meio de todas aquelas árvores, calma e paz, conseguimos ficar absorvidos a ler uma “Sábado” ou “Visão” que pode não ter mais de 1 mês. É um dia egoisticamente bem passado e merecido para quem durante a semana de trabalho observa e vive realidades bem diferentes, que às vezes não deixam tempo para pensar tanto em nós. Às vezes também faz falta.