Regressei a Portugal há alguns dias. E confesso que nesta altura a vontade de partir se adensa.
Como quase sempre, a chuva começou a meio de Maio; este ano a primeira chuva caiu em Bissau na madrugada do dia 16. Nunca, em quase seis anos, choveu tanto desde a primeira chuva até ao dia em que, entre meados e fim de Julho, partia para férias como neste ano.
A chuva na Guiné tem um prenúncio especial. Por vezes o céu até já está cinzento há algumas horas, mas não basta. A anteceder uma chuvada está o vento, que se levanta de forma rápida e violenta. Em poucos instantes, o céu escurece um pouco mais e parece que tudo vai voar pelos ares. Partículas de terra levantam-se no ar, junto com algum lixo mais leve espalhado pelas ruas, papéis, sacos de plástico. Em poucos minutos a chuva cai, intensa, ora inofensiva, ora fatal.
Para quem tem um refúgio imediato ou transporte aqueles momentos iniciais são um espectáculo a que muitas vezes se assiste fascinado. Há algo de inebriante naquele rebuliço espontâneo e breve.
Mas depois da chuva começar a cair com força é como se só um abrigo nos salvasse.
À medida que viajava, do Centro em direcção ao Bairro da Ajuda, ia fotografando as ruas a encherem-se de água… em muitas ruas, em poucos minutos a água sobe com tal rapidez que há pessoas a fugirem com água pelos joelhos.
Desalentam-me os buracos gigantes à beira das estradas, correntes que ganham força, verdadeiras armadilhas capazes de arrastar pessoas.
Em Setembro aguarda-me mais um mês de chuva mas por agora há que aproveitar a época seca e quente deste cantinho e esperar que as genti di Guiné (em especial os de quem já sinto saudades) aguentem da melhor forma o chuvoso mês de Agosto.