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sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

ROSTOS BISSAU III

Saliu é um funcionário da FDB. Às vezes mais apetece dizer “o” funcionário da FDB. Em Abril de 2007, umas das minhas actividades extra-docência passou a ser o apoio aos serviços administrativos da faculdade, vulgo a Secretaria. É aí que está o Saliu, e ele desdobra-se em trabalhos pela instituição, desde a distribuir os livros de sumários, a fazer todos os recados dentro e fora da faculdade, entregar convites para cerimónias, recolher programas e outros documentos para arquivo, afixar avisos e, no meio disto tudo, cumprimentar todas as pessoas que por ele passam. O Saliu é sem dúvida o melhor exemplo de funcionário que por aqui já encontrei. Já tem alguma idade e as coisas evoluíram muito na faculdade, mas faz um esforço enorme e tem uma vontade gigante de fazer e fazer bem. É humilde, e fica zangado consigo próprio se por acaso se esquece de alguma coisa ou há alguma que faz menos bem. Diz muito apressadamente “O Saliu pede desculpa” e faz um gesto e acena a cabeça, como quem diz “Não sei onde estava com a cabeça”. É genuíno naquilo que faz, naquilo que diz, tem orgulho no seu trabalho, o que se não é assim tão fácil de encontrar. Como a generalidade dos guineenses queixa-se das dificuldades económicas mas quem o pode censurar?! Tem salários em atraso e (só) ganha cerca de 26.000 FCFA por mês, sim estamos falar de cerca de 40€. É mais do que orgulho no seu trabalho, é por amor à faculdade e às pessoas que dela fazem parte que o Saliu lá está todos os dias, que diz bom dia a toda a gente, que sempre diz: “O Saliu vai fazer, vai tratar”, o que for preciso.
É muçulmano e não celebra o Natal mas há uns “Pais Natais”amigos que o visitam todos os anos. E este ano já abriu uma das prendas que o está a deixar muito feliz e que exibe com orgulho: uns sapatos novos. É que no que toca à vaidade, não há ricos nem pobres na Guiné, todos gostam de se arranjar bem, principalmente para as festas. Na última cerimónia da FDB, quando a foto foi tirada, até disseram ao Saliu que ele mais parecia um “Presidente”. Não há quem resista a elogios, e como o melhor caminho para os receber é merecê-los, há que fazer por isso. Aqui, nas festas todos os merecem, todos dão o melhor de si. No trabalho, o Saliu merece todos os que se lembrarem.

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