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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

ROSTOS BISSAU II

“Braima, tem um problema no carro de Ana!” Normalmente é assim que começa o difícil diálogo com Braima, o mecânico. Até agora o jipe, apesar dos seus 20 aninhos, não tem dado grandes problemas, mas quase não passa um mês sem precisar dos cuidados do Braima (as estradas aqui não ajudam). Foi assim que o Braima, nos últimos dois anos e pouco, se tornou um amigo e um profissional essencial na vida da Ana. A “oficina” é mesmo aqui ao lado do muro do Bairro e aí se pode dizer que se fazem milagres pois a oficina não tem paredes nem chão, só umas esteiras aqui e ali, e quase não há peças ou ferramentas. Mas tudo se arranja na hora, e conforme o problema de cada viatura.
Do Braima, mecânico, muçulmano, profundamente religioso, e com o sonho de ir para a Europa, o que quero recordar para sempre e partilhar com vocês é a forma de diálogo entre nós que, não sei como surgiu desta forma mas falamos como se estivéssemos a falar na 3ª pessoa, o que é simultaneamente estranho e engraçado.
A Ana pergunta: “O Braima pode arranjar o carro da Ana hoje?” e o Braima responde: “Se Ana não vai precisar de carro.” ou “Que horas que Ana vai precisar de carro?”.
E também: ”Braima, quanto é que isso pode custar?” ou no fim do arranjo ou da revisão: “Braima, é quanto?. Ao que o Braima responde sempre em primeiro lugar, e esta é genial: “Depende de quanto a Ana pode pagar.”
É assim em quase toda a África, não há um preço só para quase nada, quase todos os preços são para serem discutidos. Sim, nas oficinas também, e pasmem-se: mesmo nas farmácias. Mais uma vez, ontem, o jipe precisou da intervenção do Braima: um furo no pneu. Aproveitei para lhe pedir para lhe tirar uma foto (esta) e expliquei-lhe que queria escrever sobre ele aos meus amigos e se sabia o que era a Internet. Sabia que era pouco provável mas como há muitos cybercafés em Bissau podia já ter ouvido falar. Expliquei-lhe mais ou menos o que era, e ele concordou com a ideia (não sei bem se com um conhecimento esclarecido), e fiquei de o chamar quando tivesse tudo pronto. Acho que sei o que vai dizer; o mesmo que disse quando lhe tirei a foto: se podia tirar outra noutro dia em que já não tivesse o penso na testa (fez um pequena cirurgia há poucos dias). Claro que sim.

2 comentários:

sol disse...

A forma como contas as coisas, torna-as mágicas para mim que as lê cá deste lado.
Muito Bom, Ana!
Aproveita essa experiência grande!
:)
Tão Simples! Muito Bom!

beijinhos

*sol*

Anónimo disse...

Quem sabe se vou tb precisar do apoio de Braima?
Caso necessite, não exitarei!