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sábado, 8 de março de 2008

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Levo da Guiné estas imagens das mulheres guineenses: de manhã as mulheres vão buscar água (a maior parte das casas não têm água canalizada e é necessário ir buscá-la a fontes e poços), que transportam à cabeça. Por vezes repetem este trabalho ao final do dia, e a qualquer hora do dia, sempre que seja necessário. As mulheres trabalham na agricultura, apanham o arroz, pilam o arroz. Cozinham. Vendem pão, fruta e legumes, na rua, por vezes em menores quantidades que transportam à cabeça (mas ainda são vários quilos). Ainda transportam à cabeça a lenha para o lume, e a palha para os telhados das casas. As mulheres limpam, gerem a casa, cuidam dos filhos e dos homens.






Mas não é só nos trabalhos mais ligados à vida doméstica que a mulher guineense se encontra. Existem por exemplo muitas mulheres polícia. Existem mulheres em quase todas as profissões: na vida política, têm existido ministras, directoras-gerais, na vida académica, há professoras, investigadoras, há magistradas do Ministério Público e juízes, a Presidente do Supremo Tribunal de Justiça é uma mulher, há médicas, enfermeiras, empresárias, comerciantes.

Apesar da sobrecarga de trabalhos que estão reservados às mulheres, muitos deles difíceis e pesados, no que diz respeito à instrução e vida profissional, áreas onde muito se reflecte sobre a igualdade de géneros, a mulher guineense não é, de um modo geral, discriminada. Passo grande e muito importante sobretudo no continente africano.

Neste dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, é feriado na Guiné-Bissau. É um dia importante, e um pouco por todo o lado se comemora este dia. Também na Faculdade de Direito de Bissau as mulheres se juntaram para assinalar este dia. Foi assim que hoje conheci uma grande mulher guineense, convidada como oradora principal. A Dr.ª Odete Costa Semedo. É escritora, já foi Ministra da Educação, Ministra da Saúde, é Presidente da Comissão Nacional para a UNESCO. Hoje foi uma oradora sobre as mulheres, sobre a vida das mulheres, sobre as diferenças de género. “Não há igualdade mas não há sequer duas pessoas iguais”, disse. Foi bom ouvir a sua experiência como mulher na vida familiar, na vida política, na vida académica.

Acho que a situação das mulheres na Guiné-Bissau é mais de louvar, do que de lamentar. Olhar para as mulheres deste país, é perceber o quanto as mulheres são fortes.

Infelizmente nem tudo é bom, nem tudo é positivo. Também aqui existem histórias de discriminação como em muitos outros lugares, também existem casos de maus tratos contra as mulheres. Mas não é a regra, nem a maior parte das situações são toleradas. São situações passíveis de reacção. A lei consagra a igualdade e de um modo geral ela existe, especialmente se procurada. Nos casos de violência conjugal, por exemplo, cada vez mais as mulheres apresentam queixa e os maridos agressores são julgados.

Mas há algumas resistências à igualdade, algumas tradições, por exemplo de certas etnias que não reconhecem certos direitos às mulheres. Neste caso as tradições tendem a minorar ou a adaptar-se com o desenvolvimento da sociedade. Muita da população de Bissau já abandonou algumas das tradições das suas etnias, por diversas razões (por exemplo a tradição da família escolher o marido da filha, que muitas vezes era um negócio entre famílias).

Mais preocupante poderá ser o crescimento do islamismo, que põe em causa parte significativa dos direitos das mulheres, e infelizmente em Bissau já é possível encontrarem-se mulheres que se apresentam completamente cobertas dos pés à cabeça, que não podem ir à escola, às quais é proibido quase tudo.

Depois de tudo o que as mulheres têm conquistado desde que a Lei as reconhece como iguais é preciso não permitir retrocessos. As mulheres têm um papel fundamental na vida, tal como os homens. É preciso que se continue a lutar para eliminar os resquícios históricos e religiosos que subjugam as mulheres, apenas para que cada vez mais sejamos todos iguais.

Enquanto assim não é continuamos a merecer este dia especial, para não nos esquecermos do muito que ainda há a fazer. Um grande dia para todas as mulheres, portuguesas, guineenses e do Mundo.

2 comentários:

Mónica Lice disse...

Parabéns por este post e por esta homenagem a todas as mulheres, guineenses e não só!

Beijinhos.

Anónimo disse...

Há poucas grandes mulheres.Algumas passam por isso mas não o são. Outras sofrem em silêncio mas são- no de verdade. A humildade faz parte delas.Quem gosta de parecer o que não é à custa do sofrimento dos outros devia ser Homem e nao mulher.
Viva as mulheres guineenses!Mulheres de luta.