Powered By Blogger

domingo, 20 de setembro de 2009

SONS DE ACORDAR E AVENIDA CORTADA

Na terça-feira, dia 7, acordei ao som de sirenes, na quarta ao som do canto de aves, na quinta com a chuva a bater com força no chão, grade e portadas da varanda, e na sexta com o ruído do gerador. Adormeci sempre ao som ritmado do gerador.

Na terça o alarme das sirenes não era uma surpresa nem razão para alarme mas podia ser um motivo de curiosidade. Levantei-me e fui até ao cruzamento espreitar a Avenida.
Como imaginava, ainda deitada, uma das vias da Avenida estava reservada para viaturas do Estado, autorizadas com livre-trânsito ou de urgência.

Acontece com alguma frequência, por exemplo sempre que o Presidente da República viaja, na Avenida 14 de Novembro, ou melhor Avenida dos Combatentes da Liberdade (renomeada depois do assassinato do ex-Presidente Nino Vieira), é “cortada” uma via para passar a viatura presidencial e a respectiva delegação.

Quando isso acontece, se não for absolutamente necessário, não saio de carro durante o período que o corte de estrada durar. Todo o trânsito a circular numa só via é uma confusão de veículos que só visto e a diferença de demorar, por vezes, cerca de 1 hora a fazer um percurso que habitualmente se faria em 10 minutos.

Nesta terça-feira, no cruzamento, seis ou sete polícias controlavam a circulação de viaturas, impedindo sobretudo que entrassem ou se atravessassem na via reservada. Estavam nervosos. O mais velho deles, coxo, não queria nem deixar que os carros vindos do lado do bairro acedessem à via não reservada da Avenida, mas voltar para trás não era uma alternativa, e de vez em quando polícias e condutores gritavam uns com os outros e entre si.

As preocupações com a segurança eram enormes (as práticas seguidas questionáveis) mas não era de admirar; seis Chefes de Estado africanos e personalidades da vida política de diversos países vieram assistir à tomada de posse do novo Presidente da República da Guiné-Bissau: Malam Bacai Sanhá. Já antes tinha sido Presidente interino do país (1999/2000), é agora o 3º eleito, o 4º efectivo, e o 6º entre efectivos e interinos desde a independência.

Em todos os postes da Avenida (nunca iluminados) uma bandeira do PAIGC. Em todas as pessoas à beira da estrada uma esperança de que desta haja uma verdadeira mudança.
Fiquei um pouco à espera: queria ver passar a delegação do Presidente, na altura ainda o interino Raimundo Pereira, com os polícias batedores à frente, de lado e atrás, quase colados ao veículo presidencial ou então os 45 carros pretos compridos quase todos iguais, disponibilizados para esta cerimónia, penso que pela Líbia. Já os tinha visto passar no centro da cidade no dia anterior, todos em fila, quase colados uns aos outros, quatro piscas ligados e nenhum com matrícula. Quando eles passavam mais nada passava.
Esperei mais um pouco, passaram alguns carros do Governo, outros de missão diplomática, mas na verdade ainda havia pouco movimento. Aqui e ali uma ambulância com nome de um hospital em Itália ou um carro dos bombeiros de “Hudson Fire Department”. Traços da Guiné, sinal de ofertas no âmbito da cooperação internacional para ajuda ao desenvolvimento. Faz-nos sorrir.
Os ansiados carros e motas poderiam demorar a passar e havia muito trabalho para pôr em ordem neste feriado não programado, por isso quando recomeçou a chuviscar regressei a casa.

No final do dia soube que a cerimónia tinha corrido bem, sem incidentes, apenas com um atraso (típico) de três horas e meia. Ainda bem que não me demorei a ver os carros passar.

6 comentários:

Mónica Lice disse...

Acompanhei pela TV os acontecimentos... Imagino que tenham sido dias agitados para quem precisou de circular de carro.

Beijinhos.

Unknown disse...

Tenho acompanhado o processo de eleição e investidura do novo Presidente, com uma enorme esperança (que espero não seja frustrada...) de que seja o início de um melhor futuro para esse país! Que o merece! Cá continuo a "torcer"...
E muito obrigado pelo seu blog, e as notícias que me fazem sentir mais perto dessa terra,

Um beijinho

Carlos

Mateus disse...

Adorei o blogo, mas vocÊ não tem RSS não?

Anónimo disse...

olá ana... fico feliz com a sua volta... vi os novos tecidos que levastes a tua maiga em portugal... quero lhe informar que meu projeto de confecção continua vivo! aos poucos está tomando corpo... graças a tua idéia!!! a medida que tudo for se organizando, vou te mantendo informada.

gde bj

laura disse...

desculpe... esqueci de me identificar...bj

ASP disse...

Que pena que o novo presidente decidiu manter esse costume de transtornar a população ao fechar metade das vias, que já são insuficientes e problemáticas por si só...
O povo guineense não reclama. Se calhar não percebe essa estupidez da mesma maneira que eu, que 'me passava' cada vez que tinha que ' ligar todas as lamparinas do meu cérebro' para conduzir naquela situação. É revoltante! Talvez um dia eu consiga acabar com essa pouca vergonha...até lá, tenho que descobrir como (risos).

Ana,
Obrigada pelos posts. Que saudades de Bissau! (estranho, ne? risos)