Ana sabe o que isso significa. Significa que Braima quer bidon de iagu fresca todos os dias ao final do dia para levar quando for cortar o djumdjum.
O jejum começou a 22 de Agosto porque nessa noite apareceu a lua nova que indicava o início do mês do Ramadão.
Durante este mês os muçulmanos não comiam nem bebiam durante o dia, desde as 6H da manhã até às 19:15H. Não é só o não comer e beber, na verdade eles não podem engolir o que quer que seja, por isso lembro-me sempre que, neste mês (o do Ramadão e não o de Setembro), vemos frequentemente pessoas a cuspir, para não engolirem o próprio cuspo.
O dia que assinala o fim do Ramadão é um dia muito importante. Ter sido capaz de aguentar o sacrifício daqueles dias é uma prova de fé. E é um feriado em que as pessoas vão à mesquita pela manhã, usando as suas melhores roupas, se possível novas, juntam-se e comem e bebem o melhor que podem.
Fez-me lembrar o Natal ou a Páscoa à medida que fui percebendo os preparativos que eram feitos.
O Braima quis um sabador novo para estrear nesse dia, pelo que no sábado anterior fui ao Bandim comprar uma coisa que nunca tinha comprado na vida.
Hoje o Braima apareceu passava pouco das 10H da manhã. Já tinha ido à mesquita e vinha orgulhosamente mostrar o seu novo traje, o seu novo tapete de oração e pedir postal.
Aproveito para lhe pedir alguns esclarecimentos, já que o Saliu e o Serifo vieram pedir apoio para ficarem a assistir à partida da lua na noite de 5ª para 6ª.
É a noite de mancida, explica. Mancida de ficar a ver amanhecer. O Dafé explicou-me mais tarde que também se chama Laylat al Kadr, e que laylat é noite em árabe. Na noite do 26º para o 27º dia do jejum a lua (minguante) desaparece por completo e os muçulmanos despedem-se da lua que significa o princípio do fim do Ramadão. As duas ou três noites seguintes serão de completa escuridão, é de descanso, dizem. E só na 29º ou 30º noite aparece a LUA NOVA que assinala então o fim do Ramadão e do jejum. É feriado!
Digo, animada, que hoje é dia de comer muito mas Braima responde apenas: “se pode”.
Na casa da família do Dafé pode-se. Passo por lá um bocado em resposta ao amável convite para a festa de fim de Ramadão e aprendo um pouco mais sobre o feriado, o Alcorão e o árabe. Não me demoro pois demorado foi o caminho para ir ao e vir do Bairro de Antula.
Mais tarde passo pela maior e mais bela mesquita de Bissau, onde Braima vai fazer oração, frente ao Hospital 3 de Agosto, na Avenida.
Aparecem uns meninos nos seus novos sabador a pedir festa e troco a festa por mais um postal de mais um dia diferente.
Bom feriado
e
Salam Aleikum
(Que a paz esteja sobre vós / convosco)