A semana passada cada dia que passava à porta havia peças cá fora. Primeiro pensei que pudessem só andar em arrumações, limpezas. Até que um dia pensei: será que vai sair daqui, irão remover peças para outro lado? Tanto tempo a adiar a visita ao museu e querem ver que um dia destes não há nada para ver.
Mais vale tarde que nunca, era aquela a oportunidade. Se acreditarmos no destino era só naquele dia que tinha que acontecer esta visita.
Assomei a cabeça à porta e perguntei logo se iam tirar peças do museu para algum lado.
Era mesmo isso. Vão sair mas vão voltar. Vão fazer parte de uma exposição que vai ter lugar na Argélia, por ocasião de um Festival Pan-Africano, com incidência especial sobre rituais.
Conheci então a Eveline, que é a Directora do museu, o Albano que é o Conservador, e a Inácia que é a Documentalista. Faltava o Guia que nesse dia não estava mas qualquer um dos presentes poderia ajudar a tirar dúvidas sobre as peças.
Comecei por fotografar as peças expostas cá fora, ao sol, à espera de serem transportadas para outro lugar.
Esta peça sempre me fascinou e no entanto não tem sido fácil decorar o seu nome: é o Ninte Kamatchol, que parece ser uma mistura de uma cabeça de ave em rosto humano.
É da etnia nalú, tal como a minha Nimba que é a minha peça favorita.
O mais fascinante no artesanato é o seu simbolismo. Explicaram-me que o Ninte Kamatchol é usado em cerimónias de iniciação e de “tchoro” do marido. Nestas últimas as esposas do marido, sentam-se em frente desta peça e contam tudo o que marido fez em vida de bom e de mau.
Fiz uma pesquisa e encontrei AQUI mais informação.
Depois, finalmente, entrei no museu para a minha primeira visita que não terá sido a última. O museu é pequeno e não tem muitas peças, deve ser o museu mais pequeno que já visitei, mas mesmo assim diria que apenas retive um terço da informação, pelo que terei que voltar.
Poucos metros após a entrada, à esquerda, estão as seguintes esculturas, três bustos que representam a assimilação portuguesa.
1) Busto de homem da etnia papel ou mancanha, com pente na cabeça, representando o adquirir do hábito de pentear;
2) Busto de mulher de etnia balanta, que está representada por ter passado a usar roupa para se vestir, usavam só uma banda, dizem-me;
3) Busto de homem de etnia mandinga, considerada então a etnia mais indígena.
Curiosidades:
Onde está tudo isto escrito? Quem esculpiu estes bustos?
E a conversa com a Eveline toma o seguinte rumo:
Antes da Independência era chamado o Museu da Guiné Portuguesa, e situava-se no edifício da actual Primatura. Gostariam que voltasse para lá. E eu, que idealizo uma Biblioteca da Faculdade neste edifício, acho a ideia excelente. Têm vários apontamentos sobre as peças mas o sonho de todos eles era que existisse um catálogo do museu. Não me posso comprometer a fazê-lo com eles (infelizmente) mas comprometo-me a divulgar a ideia. Quem sabe não aparece por aqui um historiador, antropólogo ou outro interessado numa investigação que pudesse abarcar esse projecto. E um financiador interessado?