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quarta-feira, 10 de junho de 2009

MUSEU ETNOGRÁFICO I

Durante mais de 4 anos passei à porta quase todos os dias. Pensei inúmeras vezes passo cá depois ou a ver se venho amanhã só para fazer uma visita.

A semana passada cada dia que passava à porta havia peças cá fora. Primeiro pensei que pudessem só andar em arrumações, limpezas. Até que um dia pensei: será que vai sair daqui, irão remover peças para outro lado? Tanto tempo a adiar a visita ao museu e querem ver que um dia destes não há nada para ver.

Mais vale tarde que nunca, era aquela a oportunidade. Se acreditarmos no destino era só naquele dia que tinha que acontecer esta visita.

Assomei a cabeça à porta e perguntei logo se iam tirar peças do museu para algum lado.
Era mesmo isso. Vão sair mas vão voltar. Vão fazer parte de uma exposição que vai ter lugar na Argélia, por ocasião de um Festival Pan-Africano, com incidência especial sobre rituais.

Conheci então a Eveline, que é a Directora do museu, o Albano que é o Conservador, e a Inácia que é a Documentalista. Faltava o Guia que nesse dia não estava mas qualquer um dos presentes poderia ajudar a tirar dúvidas sobre as peças.

Comecei por fotografar as peças expostas cá fora, ao sol, à espera de serem transportadas para outro lugar.

Esta peça sempre me fascinou e no entanto não tem sido fácil decorar o seu nome: é o Ninte Kamatchol, que parece ser uma mistura de uma cabeça de ave em rosto humano.

É da etnia nalú, tal como a minha Nimba que é a minha peça favorita.

O mais fascinante no artesanato é o seu simbolismo. Explicaram-me que o Ninte Kamatchol é usado em cerimónias de iniciação e de “tchoro” do marido. Nestas últimas as esposas do marido, sentam-se em frente desta peça e contam tudo o que marido fez em vida de bom e de mau.

Fiz uma pesquisa e encontrei
AQUI mais informação.

Depois, finalmente, entrei no museu para a minha primeira visita que não terá sido a última. O museu é pequeno e não tem muitas peças, deve ser o museu mais pequeno que já visitei, mas mesmo assim diria que apenas retive um terço da informação, pelo que terei que voltar.

Poucos metros após a entrada, à esquerda, estão as seguintes esculturas, três bustos que representam a assimilação portuguesa.




1) Busto de homem da etnia papel ou mancanha, com pente na cabeça, representando o adquirir do hábito de pentear;














2) Busto de mulher de etnia balanta, que está representada por ter passado a usar roupa para se vestir, usavam só uma banda, dizem-me;










3) Busto de homem de etnia mandinga, considerada então a etnia mais indígena.






Curiosidades:
Onde está tudo isto escrito? Quem esculpiu estes bustos?

E a conversa com a Eveline toma o seguinte rumo:
Antes da Independência era chamado o Museu da Guiné Portuguesa, e situava-se no edifício da actual Primatura. Gostariam que voltasse para lá. E eu, que idealizo uma Biblioteca da Faculdade neste edifício, acho a ideia excelente. Têm vários apontamentos sobre as peças mas o sonho de todos eles era que existisse um catálogo do museu. Não me posso comprometer a fazê-lo com eles (infelizmente) mas comprometo-me a divulgar a ideia. Quem sabe não aparece por aqui um historiador, antropólogo ou outro interessado numa investigação que pudesse abarcar esse projecto. E um financiador interessado?

Os bustos têm a seguinte inscrição “M Oliveira 1940”. E essa é uma falha nas informações que dispõem sobre as peças. Não sabem mais sobre o escultor mas dizem que era português. Andei a fazer pesquisas na net e não cheguei a nenhuma conclusão. Como me comprometi ainda a tentar descobrir quem era, agradeço se alguém puder ajudar nesta caça ao escultor.

Que jeito dava uma investigação mais profunda e um catálogo, maravilhoso, cheio de fotos e descrições!
Mais desta visita ao museu a relatar um dia destes.

domingo, 7 de junho de 2009

DIÁLOGOS EM MAIS UM DIA DE MORTOS

(Casa, 6:30 da manhã, toca a campainha)
A (voz ensonada): Sim. Que se passa?
Siaka (guarda): Dr.ª mataram Baciro Dabó!

(A meio da manhã no páteo da faculdade)
A: Armando que cara tão triste é essa?
Armando: Vim agora da casa de Faustino. Família stá lá e tchora. Como é que é possível? Essa impunidade sempre.

(Casa, depois de almoço)
Braima: Faustino era homem simples, amigo de Braima.
(…)
A: Quando é que isso vai acabar?
B: É assim. Se alguém mata Braima, família de Braima vai matar, depois outro, sempre assim.
A: Mas vai ter que acabar um dia.
(B levanta as mãos em direcção ao tecto)
B: Só Deus ki sabe.

(No carro, a caminho do Bandim, cerca das 4h da tarde)
A: Vais amanhã na viagem? Acho que é na zona de Canchungo?
Revilino: Não sei.
A: Como não sabes?
R: Não estou a sentir bem.
A: Mas sentes o quê? Se estás a ficar doente tem que se ir ver o que é.
R: Não é isso. Não sinto bem psicologicamente.
A: Então? É por causa da mãe do teu filho?
R: Não. É isso que aconteceu hoje.
(Suspiro. E depois em voz de revolta)
R: A Dr.ª acha que a gente algum dia vai ter outro futuro?
A: Ó Revilino não faças perguntas difíceis. Tudo se há-de resolver.
R: Se isso continua assim vocês ainda vão embora.
A: Ó Rivelino, não vou nada embora. Ninguém se vai embora.

Sexta-feira passada foi mais um dia de vergonha e tristeza na Guiné-Bissau.
Baciro Dabó era candidato presidencial e ex-ministro da Administração Territorial.
Hélder Proença era deputado e ex-ministro da Defesa. Para além dos dois, foram ainda assassinados o motorista e o segurança pessoal deste último.
Até ao dia de ontem pensava-se que o mesmo destino teria sido o de Faustino Imbali, antigo Primeiro-Ministro, por agora parece que está sob custódia militar.

Em todos estes anos sempre que a Guiné-Bissau é notícia na televisão e nos jornais que os meus familiares e amigos vêm em Portugal é sempre uma má notícia. A Guiné-Bissau ou é um narcoestado, ou há um golpe de Estado ou assassinaram algum político. Em
Março foi o próprio Presidente da República.

É impossível contrariar certas ideias com que as pessoas ficam quando nunca estiveram aqui e só ouvem essas notícias.

Não há razão conhecida para o que se terá passado na madrugada de 6ª feira. Sexta-feira à meia-noite já duas carrinhas com militares (ou pessoas vestindo uniformes militares, como é dito nas notícias) tinham passado para a casa de Faustino Imbali, a escassos metros daqui. Só por isso pedi ao Siaka que me avisasse se acontecesse alguma coisa durante a noite. Muitas suspeitas mas nem imagino o que terá sido toda aquela noite nesta cidade. Entrada nas casas das pessoas, tiros, detenções, gritos. Ao contrário das primeiras horas em que as notícias davam como certo o abortar de uma tentativa de golpe de Estado, a versão da vingança e outras semelhantes são cada vez mais ouvidas.

Não sei se importa saber àqueles para quem escrevo. Talvez a esses importe saber como foram as horas seguintes, o dia seguinte, no quotidiano da cidade.

De manhã fui a pé para a faculdade, os alunos apareceram para fazer os exames marcados. Tudo decorreu normalmente. A tensão dos exames cuja realização ocupou a manhã quase toda nem deu espaço para muitas conversas sobre o que se tinha passado. O tempo de antena nestes dias já se sabe, é para as dúvidas de última hora, a angústia de não se lembrar de alguma coisa.
Na cidade havia um pouco menos de trânsito do que o habitual mas nem tanta diferença assim. Havia gente a trabalhar, a vender, às compras, a acartar água, bidões. À tarde fui ao Bandim com o Revilino comprar coisas para a faculdade a preparar a cerimónia da próxima semana com toda a fé de que ela se irá realizar (umas compras a relatar mais tarde). Havia algumas lojas fechadas, outras de porta encostada, mas ainda havia muito movimento no mercado, como é normal.

À noite saímos para jantar como todas as sextas-feiras.

É estranho? Esta é a normalidade de um país que aos olhos de muitos não é “normal”. Alguém me disse que pela manhã eu parecia guineense porque parecia que via tudo o que se tinha passado como normal. Não é, nem eu acho. Mas é uma defesa das pessoas, de continuarem a viver como todos os outros dias, em parte porque estes episódios se repetem vezes demais. Durante o dia na rua as pessoas passavam, algumas tristes, outras assustadas, muitas delas conformadas.
Seria por causa do que aconteceu? Ou é sempre assim?

Há de facto em alguns sentimentos mais intensos, de revolta, de angústia, receios, incertezas. Mas para muitos deles é a continuação de todos os outros dias. Para o
André, que só pede em último recurso, e ontem veio pedir porque não tinha que comer. Ou para o Saliu que se tem empenhado tanto em controlar tudo o que é preciso em volta dos exames para que daqui a uns dias possa pedir uma ajuda para comprar um saco de arroz, será que o maior drama é terem matado o Presidente?, um ex-Ministro?, um deputado?
Muitas das pessoas aqui vivem um drama diário. O drama de muitos deles aumenta quando pensam, como o Revilino o disse, que algum dia a comunidade internacional lhes possa virar as costas. É por isso que sei que ao pé deles estamos seguros, apesar de tudo o resto que vai acontecendo.

Nenhumas destas palavras consolam ninguém, mas espero que a descrição da “normalidade” do meu dia dentro da “anormalidade” que é o estado do país, possa fazer alguns compreender que para mim não há um perigo nas ruas e há razões para continuar a estar aqui.

Para quem está por dentro da história isto ainda não significa uma tomada de decisão em relação ao futuro. Estarei por mais uns meses, depois disso ainda não se sabe.

sábado, 23 de maio de 2009

BORBOLETA

Só no credita
No podê voá
A vida animal na Guiné-Bissau não é assim muito variada. África e safaris não combinam em todos os países deste continente.

E o que por aqui mais existe são mesmo insectos. Dentro desta classe de animais os únicos que gosto são as burbuletas.

Há dias que passam aqui pelo jardim a esvoaçar, por vezes repousam nas flores, mas nunca o tempo suficiente para pousarem para uma foto.

Esta estava no chão da Faculdade e tão imóvel, mesmo à medida que me aproximava, que por momentos pensei que estivesse morta. Afinal estava só a fazer-me o favor de a deixar fotografar para poder partilhar esta foto tão linda, antes de partir a voar como as demais.
Uma simpatia, já que os outros animais, que vejo todos os dias, ou são insectos que me picam, ou lagartos que me assustam.

AQUI a música “Voá Borboleta” da Sara Tavares, com imagens de outras tão e mais belas.

E um pouco da letra da música em crioulo de Cabo-Verde (há diferenças em relação ao da Guiné):

Borboleta, borboleta
Abri bôs asas e voá, mesmo se vida bai amanhã
Borboleta...
Se um prende vivê ess vida
Cada dia voá

É um mensagem pa tude gente
Qui tá sobrevivê, tude alguêm sim força pá voá pa vivê
Lá na mei de escuridão,
No podê encontra razão
Só no credita
No podê voá

quinta-feira, 21 de maio de 2009

DAVID E DANIEL, OS GÉMEOS DA NATÁLIA

Nasceram no dia 22 de Março de 2005. Estávamos nas férias escolares da Páscoa e eu fui a única da minha equipa de trabalho a ficar em Bissau (ou a não ir a Portugal). Por opção, leia-se (iria dali a uns dias passear para o Senegal).

Vieram chamar-me ao bairro porque a Natália (empregada do Dr.) tinha ido para a maternidade e os meninos tinham nascido. Foi a primeira vez que fui à maternidade do Hospital Simão Mendes e era esta a história que prometi contar quando aqui há umas semanas recomendei a reportagem
DAR VIDA SEM MORRER.

Logo à entrada pessoas deitadas e sentadas no chão do corredor. Pedidas informações, cheguei ao quarto onde estava a Natália. Na cama dela repousava um bebé muito muito pequenino, envolto em panos, não de algodão, nem de nada que parecesse macio. Pesava afinal pouco mais que 1 Kg. E o outro? Estava na incubadora, na pediatria, um edifício na parte mais traseira do Hospital (na altura). Iria vê-lo quando saísse dali.

A Natália estava fraca, muito cansada, resultado de ter perdido muito sangue no parto, e acabou por ficar com uma anemia. Mas noutra cama da mesma divisão uma mulher parecia ter um sofrimento maior, e não tinha um bebé ao seu lado. Tinha perdido a criança. Situação afinal tão comum.

Queria sair dali. Não havia alegria como outras as vezes que tinha ido a uma maternidade visitar uma mãe e o seu bebé. Não havia higiene, flores ou prendas.

Saí daquele edifício a achar que era o segundo local que cheirava mais mal de todos os locais onde tinha estado (o primeiro era o interior do Bandim).

Se a primeira impressão era até aqui péssima, nada me tinha preparado para o que vi a seguir. Na pediatria pedi para ver o bebé, filho da Sr.ª Natália, que estava na incubadora. Havia duas incubadoras encostadas a uma parede no grande hall à entrada, mas aqueles “buraquinhos” das incubadoras, que deviam ter uma espécie de mangas, não tinham nada, estavam só assim, um bebé em cada caixa de plástico com dois buracos, sem qualquer ligação a nada. Ninguém repararia durante horas se algum deles deixasse de respirar.

A enfermeira mostrou-me o bebé e perguntei o que tinha para estar ali (para além de pesar cerca de 900 gramas). Disse-me que era uma hemorragia mas que ia ficar bem. Para o provar levantou a tampa, retirou o bebé, segurou-o só com uma mão pela barriga, virou-o de costas e afastou uma fralda de pano mal colocada, e à medida que puxava a fralda o sangue seco ia-se despegando ou da pele ou da fralda. Do ponto de vista humano nunca vi nada tão nojento.

Durante umas horas não achei que fosse capaz de voltar ao Hospital, mas enchi-me de coragem e à tarde lá estava de novo. Depois de umas paragens na farmácia e no Sr. Amido (a melhor loja de crianças mesmo no coração do Bandim) seguiram-se uma discussão com um médico que se recusou a ir ver a Natália, quando esta não tinha força nem para levantar um braço, e outra com uma enfermeira pouco disponível para fazer um teste de paludismo e cujo único interesse era saber quem pagaria o teste.

Passadas as maiores atribulações, as minhas dúvidas começaram a concentrar-se em coisas mais importantes.

Como se chamariam os bebés? Ainda não tinham nomes. E também não tinham enxoval. Tudo aquilo que seria normal no meu país era que a pré-mamã comprasse o enxoval e pensasse e tentasse convencer o papá dos nomes a dar ao rebento.

Na Guiné não se pensa em nomes para o bebé que ainda não nasceu (raramente) e nunca se compra enxoval. A principal razão é a incerteza de que o bebé sobreviva ao parto ou aos primeiros dias. No que diz respeito ao enxoval também há uma questão económica.

Pergunta da Natália: se tivesses filhos como lhes chamarias? E assim dei os nomes aos bebés da Natália: David e Daniel.
Hoje, o David e o Daniel têm 4 anos, destronando qualquer dúvida sobre a sua sobrevivência pós-parto.

Antes da última viagem a Portugal a Natália veio pedir-me para trazer Dodot para o Daniel.
As Dodot são a designação para todas as fraldas descartáveis. Um hábito que existe aqui de chamarem uma série de produtos pelo nome da marca que marcou ou introduziu este ou aquele produto.

O Daniel é o bebé que esteve na incubadora e teve sempre problemas. Não anda, os pés não assentam no chão, e não fala, articula uma sílaba aqui e ali. Aqui ninguém consegue explicar o que tem, e por isso vai em breve, depois de muita luta da sua mãe, a uma consulta em Portugal.
No outro dia fiz-lhes uma visita depois de almoço. Moram longe, no Alto do Bandim, perto do Campo Sueco. O Daniel grita de contente e ri-se muito quando a mãe e o irmão chegam. Sendo gémeos, e olhando para os dois ao mesmo tempo, é flagrante que o nível de desenvolvimento do Daniel é bastante inferior ao do David. No entanto são ambos muito meigos, abraçam-se e beijam-se muitas vezes, o David fala ao irmão e pega nele. O Daniel percebe tudo o que lhe dizem e tenta responder.
Se lhe perguntamos: Kuma ki bu nomi? Responde “Dá”, a primeira sílaba do seu nome. Se lhe perguntam: Kim ki bandido? Repete a resposta: “Dá” e ri-se. Se lhe perguntam: Kantu ano ki bu ten? Estende a sua mãozinha e assinala quatro dedos.
Quando a mãe o irmão saem de casa grita de kasabi (tristeza) e tchora. E só mais tarde percebo porquê. Levei a Natália e o David ao bairro de Santa Luzia, a casa da irmã. Afinal o David não vive na mesma casa que a mãe, o pai e o irmão, e tudo porque são gémeos. Vive na casa da tia. Pergunto à Natália se também ela acredita naquilo que se diz de irmãos gémeos (é uma coisa terrível que pode acontecer numa família guineense) porque sempre me pareceu uma mulher mais moderna, menos dada a tradições difíceis de compreender nos dias de hoje, no resto do mundo, mas ela responde-me apenas: Sabes como são os africanos.

Digo um sim pouco convencido e penso que não compreendo mesmo. O David ficou com os olhos marejados de lágrimas à porta da casa da tia. Sei que a Natália é uma boa mãe, que faz tudo pelos filhos, mesmo que isso signifique mantê-los afastados para que a convivência com o resto da família e da comunidade lhes dê a todos uma certa paz.

Depois de tudo o que já passaram pensar no futuro não é fácil, mas só pode ser visto com optimismo e neste momento a esperança de que ir a Portugal possa ajudar o Daniel a desenvolver-se mais e a ter uma vida melhor é que reina nesta família.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

MAIS UMA ÉPOCA DE CHUVAS

Como (quase) manda a tradição as chuvas começaram a meio de Maio.

Na manhã de Sábado, acordei cedo, para um fim-de-semana nos Bijagós, e nem um raio de Sol, e o chão assim molhado.

Ainda não foi uma grande chuvada mas daqui para a frente esperam-se uns largos meses cheios de água.

Hoje o tempo também esteve sombrio e levantou-se há pouco um vento que parece anunciar chuva mas se for como no ano passado ela está a acumular lá em cima e cairá com toda a força sexta ou sábado.

sábado, 2 de maio de 2009

BANDIM I – PANOS

O mercado do Bandim é o maior mercado de Bissau. Dizemos, por graça, que no Bandim se vende tudo e é quase verdade.

Desde o primeiro fim-de-semana em Bissau (há mais de quatro anos) que vou ao Bandim com alguma regularidade. Há quem lá vá um só dia e jure para nunca mais.

É verdade muito do que possam ouvir, sobretudo sobre o cheiro. É, em muitos espaços, nauseabundo. Também há alguns assaltos mas felizmente, mesmo com tantas visitas (e a arriscar com a máquina fotográfica), tenho tido sorte.

Mas o Bandim é também o lugar mais africano da cidade: um mercado onde se vende de tudo e nada tem um só preço.

Sábado em Bissau significa quase sempre uma visita a este mercado.

O mais atractivo é, sem dúvida, os panos.

Acontece-me um pouco como com os cestos; vou comprando e depois logo se vê.

O das conchas foi o primeiro a ser comprado. Não havia toalha de mesa cá em casa, e sem ter procurado muito e sem ter visto outros que me agradassem mais, tornou-se na primeira toalha da mesa de refeições cá de casa.
Os dois seguintes, comprados em momentos diferentes, também se transformaram em toalhas de mesa, é a opção mais comum, mais prática.
Este, em que os motivos parecem uns peixinhos, deu as primeiras almofadas da sala.
Que agora foram substituídas neste motivo mais floral.
Ainda em almofadas, do João herdei algumas com este tecido.
Mas, como o tecido atingiu o limite da resistência, e porque os cortinados do escritório são verdes, estão a ser forradas com este tecido.
Hoje não resisti a estes, embora ainda não saiba que destino lhes dar.
E há mais panos aqui por casa, transformados em peças de roupa, que ficam para mostrar em breve.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

CAJU: A ÁRVORE, O (FALSO) FRUTO, A CASTANHA, O SUMO E O VINHO

Antes de Março começamos a vê-los assim, cada vez mais, pendurados nas árvores. Este é o cajueiro. Multiplicam-se pelos terrenos a uma velocidade quase incontrolável. Há-os na cidade e à beira de todas as estradas quando saímos da capital.
No mês de Março começamos a vê-lo das seguintes formas.

O fruto (que é afinal o pseudofruto).
É fresco e sumarento, mas sempre que experimentei parece que “encortiça” a boca, tal como os dióspiros, dos quais também não consigo gostar.
E a castanha de caju, que é afinal o verdadeiro fruto, e a esta sim, eu não resisto, e nem a maior parte das pessoas que conheço. É por isso que a exportação da castanha de caju representa muito mais de metade do PIB do país.
Tem estado entre o 5º e 8º lugar dos maiores países produtores da castanha de caju e aquele que mais a exporta em estado bruto.

Estas são as minhas principais vendedoras, em frente ao mercado central. Já sabem que quando vou a Portugal levo vários saquinhos e por isso quando se aproximam algumas férias escolares, perguntam quase todos os dias quando vou. Há algumas semanas lá foram mais uns saquinhos. Lá em casa até a avó, com 82 anos, acha a castanha de caju uma delícia.
Em Bissau, também procuro que, na época em que ele é “fresco” ou “novo”, haja sempre aqui por casa, ou a servir de aperitivo a qualquer hora, exposto nesta canoa de madeira de pau-preto;
Ou quando há lanche ou festa cá por casa, inventei desde o 1º ano, a receita da tarte de caju, que é só pegar numa receita de tarte de amêndoa e substituir esse fruto por este.

Do (pseudo) fruto faz-se ainda uma aguardente a que aqui chamam vinho de caju. E na Avenida da Granja (Estrada da Aldeia SOS) é onde se concentra a maior venda de vinho de caju. (Para mim) O cheiro é intenso e não muito agradável. Mas os guineenses apreciam esta bebida, e hoje 1º de Maio estará presente em muitas festas.

As fotos do vinho, devo-as ao Eliseu. Obrigada!